O ESTRANHO MUNDO DE ZÉ DO CAIXÃO (1968)
- Phellppss Rissatto
- 19 de mar. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de jun. de 2022

Título Brasil: O Estranho Mundo de Zé do Caixão
Título Original: O Estranho Mundo de Zé do Caixão
Ano: 1968 País: Brasil
Gênero: Terror
Diretor: José Mojica Marins
Roteiro: José Mojica Marins / R.F. Lucchetti
Estúdio: Autoral
Elenco: José Mojica Marins, Tony Cardi, Rosalvo Caçador, Neide Aparecida, Íris Bruzzi, Luís Sérgio Person, George Michel Serkeis, Arnaldo Brasil, Oswaldo de Souza.
Trilha Sonora: José Mojica Marins, Hermínio Gimenez e Edson Lopes.
“Eu quero que cada vez mais os jovens entrem na nossa cultura que está cada vez mais baixa.” — José Mojica Marins
Ao escrever sobre filmes de horror, decidi começar valorizando um ícone mundial que surgiu aqui mesmo em Terra Brasilis* : José Mojica Marins, mais conhecido por seu personagem Zé do Caixão, minha intenção é comentá-la e talvez atiçar sua vontade de degustar essa arte, claro se tiver estômago para tal feito.
O filme se trata de um compilado de 3 curtas-metragens dirigidos, produzidos, roteirizados por nosso mestre do terror nacional, esses curtas são:
- O Fabricante de Bonecas;
- Tara;
- Ideologia;
Antes dos curtas começarem somos iniciados com um monólogo do autor, antíteses reflexivas são mencionadas e nos fazem refletir sobre o Tudo e o Nada, a Vida e a Morte, que apontam para o Medo e o Terror. A música tema na introdução cria uma atmosfera sombria e ao mesmo tempo nos leva aos anos 50/60, porém a letra quando junta com a melodia deixa um tom sombrio.
Os curtas são bem desenvolvidos, com uma boa roteirização e ambientação, eu como baixista fiquei vidrado na música que toca na cena inicial do primeiro curta, pois a música com uma pegada meio Disco acaba elevando os efeitos sonoros causados por um contrabaixo bem tocado.
O Fabricante de Bonecas: Na trama temos elementos interessantes, diálogos objetivos e práticos, além da expectativa escatológica sobre o destino dos personagens e o segredo por detrás do personagem que dá nome ao título. Vale a pena os 18 minutos, ressalva para a atuação Oswaldo de Souza como o Fabricante de Bonecas e Luís Sérgio Person como Sérgio, líder dos ladrões.

Tara: Um curta que talvez explore menos o elemento horror em si, porém sua trilha sonora, o stalker, cenas em um cemitério, elementos num teor sombrio, apresentam um horror sugerido em toda a trama, durante seus 24 minutos acompanhamos a perspectiva de um stalker em sua Tara.
Ideologia: O mais perturbador dos 3 curtas, aqui temos a atuação de José Mojica, o que não temos nos outros dois curtas, seu personagem da um toque especial em toda a trama, possuí personalidade, resultante na incógnita em torno de qual será seu próximo passo. Essa obra possuí 34 minutos que não são cansativos ou tem algum tipo de enrolação, são objetivos e reflexivos.
O Estranho Mundo de Zé do Caixão, é uma obra-prima de um dos maiores ícones do horror, um autodidata que nunca estudou cinema de forma acadêmica, somente tinha uma paixão incrível pela Sétima Arte. Sofreu perseguições durante o Regime Militar, pois era um dos maiores nomes do Cinema Marginal*. Muito conhecido por seu personagem Zé do Caixão (Coffin Joe no exterior), aqui no curta Ideologia, tem o nome de Oãxiac Odéz, que nada mais é do que um anagrama de Zé do Caixão lido de trás pra frente.
Em resumo a obra tem um show de efeitos práticos (marca registrada do autor), bizarrices, horror pesado e cenas perturbadoras. Não há elementos sobrenaturais, o que nos remete ao monólogo de início da reflexão que nos é apresentada, em geral a obra no mostra que o terror verdadeiro está na sociedade doente em que vivemos, os monstros são internos, é em cenas como abuso sexual, agressão, roubo ou até mesmo em uma má interpretação de texto sagrado, como justificativa para tortura e manipulação que percebemos o terror que nossa sociedade vive e prática dia após dia.

Essa resenha é uma homenagem ao maior mestre do horror nacional, um resgate de nossa cultura e história, valorizando nossas raízes e gênios tupiniquins.
Dedico essa resenha ao grande José Mojica Marins e ao meu amigo pessoal, escritor de resenhas e fanzines: Juvenatrix, pois através de nossa amizade pude conhecer um pouco mais desse universo maravilhoso do Horror.
Notas:
Terra Brasillis: É o termo utilizado para denominar o Brasil antes da chegada dos Europeus, a terra dos índios. A expressão "terra brasilis" já aparecia em mapas dos séculos XVI e XVII, como por exemplo o mapa feito por Pedro Reinel e Lopo Homem em 1519.
Cinema Marginal: O cinema marginal é um movimento cinematográfico que ocorre do final dos anos 1960 a meados dos 1970 no Brasil, caracterizado por filmes autorais e experimentais, que chamam a atenção para problemas e incoerências do Brasil durante os anos mais violentos da ditadura militar (1964-1985)1 e ficam à margem dos circuitos comerciais de exibição.

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